Dia da Expiação - Yom Kippur

Recentemente foi observado o feriado (Heb. Moedim) das Expiações (Heb. Yom Hakippurim – note o plural). O nome está (Lev 23:27) relacionado ao objetivo do ritual realizado pelo sacerdote nesse dia, o 10º do 7º mês. Esse era o término dos rituais do santuário (ver Lev 16; 23:26-32; Núm 29:7-11), e por isso um dos dias mais solenes do calendário Israelita. Mas para entendermos o final precisamos compreender o seu início e o processo dos rituais do santuário durante o ano.

De acordo com o livro de Levítico, qualquer dia do ano o adorador do Deus de Israel poderia oferecer no santuário o seu sacrifício para perdão e purificação das impurezas (Heb. tum’ot), dos pecados (Heb. chatat), transgressões (Heb. Peshayim) e iniquidades (Heb. Avonot). As impurezas, pecados e transgressões eram assim transferidas para o lugar santo por meio das ofertas, isso contaminava a casa de Deus (Lev 16:16). A ironia do ritual era que o local mais sagrado de Israel, onde Deus (O Santo de Israel) se manifestava,  servia como um depósito de lixo, ou reciclagem. O santuário servia como uma esponja que sugava e acumulava a sujeira do povo de Deus. Essa é a primeira lição do ritual, o Deus de Israel, deseja relacionar-se e morar com seus filhos mesmo que sujos (Êxodo 25:8).

 

Os rituais do santuário Israelita é pedagógico

Deus ensinou que “ele toma sobre si nossas iniquidades” para eventualmente destruir o mal

Uma vez ao ano, no entanto, era dia de faxina divina. O dia das Expiações era um tipo de acerto de contas. A limpeza do santuário não era apenas para Deus mas implicava todo Israel. A sujeira criava uma separação entre o Santo de Israel (Deus) e os Israelitas (Isa 59:1-2). Para manter um relacionamento saudável, ou preservar a presença de Deus em Israel, era necessário a remoção da barreira, do pecado e impureza. Isso era realizado no dia das expiações. O processo de transferência iniciado pelos sacrifícios diários (Heb. tamid) tinha sua finalização nesse dia. Ao final de um elaborado ritual a sujeira era eliminada para fora do acampamento e os arrependidos poderiam permanecer perante Deus por estarem purificados (Lev 16:30) enquanto que os rebeldes era expurgados junto com o pecado (Lev 23:29 – pena de morte, Heb. karet).

 

O elaborado ritual é descrito em Lev 16 que curiosamente se inicia com o lembrete da morte de Nadabe e Abiú (Lev 10). Nesse episódio de Levítico, os sacerdotes filhos de Arão entram no santuário trazendo incenso não permitido, transgredindo as ordens divinas, e por isso, são exterminados. Deus então relembra à Arão que “ele não entrará como deseja no local santíssimo” (Lev 16:2). Apesar de Deus habitar no acampamento imundo dos Israelitas, havia uma certa tolerância e preucações a serem tomadas no relacionamento com os seres humanos. O espaço fora dividido em esferas sagradas (Santíssimo, santo, pátio, arraial, fora do arraial), os indivíduos também fora divididos (sumo sacerdotes, sacerdotes, levitas, Israelitas puros, impuros), assim como o tempo (todos os dias – tamid; dia de juízo).

Apenas alguém com o mínimo de pureza poderia entrar no pátio do santuário (Lev 11-15). Somente os sacerdotes poderiam entrar no lugar santo, em estado de pureza e após se lavarem (Lev 1-10), e apenas o sumo-sacerdote poderia entrar no lugar santíssimo uma vez ao ano (Lev 16). Nesse dia ele oferecia um sacrifício pelos pecados seus, de sua família e de todo Israel (v.6,11,15). Depois ele aspergia o sangue dos animais sobre os altares e a arca da aliança, purgando-os (Heb. kiper) da sujeira ali acumulada durante o ano (v.12-15, 18-20). E por fim, o sumo-sacerdote colocava sua mãos sobre o bode pertecente à Azazel (v.8,10,26 – Heb. la azazel) e esse era enviado para o deserto, carregando os pecados dos Israelitas para fora do arraial (v.22). Assim, os pecados eram removidos/expiados/purgados, e Israel se tornava puro e santo novamente. Em comemoração a esse livramento, os Israelitas comemoravam por 8 dias, nos dias de Tabernáculos (Heb. sukkot).

O dia da expiação também marcava o ano novo pois os rituais dos santuário voltavam ao normal (tamid) após o 10º dia do 7º mês e nesse dia marcava o ano do Jubileu a cada 50 anos (Lev 25:9). Era o ano novo para todos os Israelitas pois os escravos era libertos, as terras voltavam aos seus donos originais, as dívidas era perdoadas. Era um recomeço.  Curiosamente, os rabinos posteriormente ao período do Judaísmo do Segundo Templo (pós-exílico) transfeririam o ano novo para o 1º dia desse mês, para o dia das trombetas (mais sobre isso em um próximo texto). Enquanto isso, Daniel 8 e os Israelitas de Qumran (os Manuscritos do Mar Morto), interpretaram o dia da Expiação e o Jubileu escatologicamente, como um símbolo ou tipo do tempo do fim quando Deus acabaria com o mal na terra.

De acordo com a tradição Cristã, a interpretação desse ritual é realizada em Jesus e sua incarnação, onde ele se faz carne e habita entre os pecadores (João 1:14), recebendo os pecados confessados sobre si (2 Cor 5:21). A expiação é realizada primeiro na sua morte e resurreição e em continuidade no santuário do céu pelo sacerdote-messias, Jesus (Hebreus 3:1-3, 4:14-16, 8:1-2, 9:11-14).

Quer aprender mais sobre as implicações proféticas desse dia no Judaísmo antigo e Cristianismo
matricule-se no curso do Apocalipticismo Judaico

Previous
Previous

Day of Atonement - Yom Kippur

Next
Next

Outono: alegria na morte